quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Comédia pode tudo?

Está ocorrendo no Brasil-il-il uma certa polêmica sobre uma piada feita pelo grande (literalmente) comediante Rafinha Bastos no programa CQC. Diga-se de passagem nunca vi esse programa. Mas, já vi o Rafinha em ação em stand up... O cara bota pra fuder! Não tem pena!

Mas, acho que o debate está ocorrendo de maneira errada.
Na minha opinião o comediante pode tudo! Estamos vivendo um novo momento no humor brasileiro que ficou anos vivendo preso em personagens e bordões. Ver um cara fantasiado, fazer a mesma coisa toda semana, com humor extremamente ingênuo e politicamente correto não é inteligente.
Inclusive o "policamente correto" é algo extremamente castrador e repressivo.
Rafinha Bastos não estava fazendo apologia à pedofilia. Ele estava fazendo uma piada com a Wanessa Camargo e só!
O humorista em seus textos ou performances deve poder falar de qualquer assunto e sacanear qualquer pessoa. Fazer piada de negro, deficiente, cego, portugues, baitola, ou sobre religião não deve ser visto como algo preconceituoso. Para mim o humor tipo Zorra Total é que é preconceituoso ao excluir esse tipo de piada ou palavrões.
Na minha opinião a comédia não pode ter limites!
O que acontece é que nós somos um povo que ao mesmo tempo é violento e vaselina. Vivemos um processo de lucianohuckzação sem volta! Então, fica todo mundo fazendo polêmica com um comediante, ao invés de protestar contra um estádio para a copa que vai custar 1 bilhão e não vai trazer benefício pra porra nenhuma!
E o falso moralismo cada vez mais está dando as cartas.
O pior é que essas características vão se tornando algo cultural! Não tem volta. Eu olho para o nosso país e vejo cada vez mais as coisas na "casa do sem-jeito". Já era. Não vai mudar em 50 anos e nem nunca! O negócio é tão complicado e já está tão solidificado, que a gente carrega dentro da gente quase como se fosse genético.
Moro fora à mais de dois anos e às vezes ainda me pego em alguns momentos pensando com a minha cabeça de brasileiro!
Então, uma vez ou outra, quando surge uma pessoa mais contestadora e quebrando um pouco essas regras, o cara é considerado um pária! Tenho dificuldade de saber se o povo não tem consciência de que é assim, ou se tem e não quer mudar. Quer continuar na mesma passividade, no mesmo carnaval nosso de todos os fevereiros, quer rir da mesma piada no sábado a noite e quer achar bom morrer em um hospital público depois de uma copa do mundo que vai assistir pela TV. O sofirmento vem em HD e 3D.

Pode fazer piada, o que não pode é o Sarney ser uma baluarte nacional e imortal da academia brasileira de letras.

E que o Rafinha Bastos não se curve à censura.

Pois, já diria Millor Fernandes: "Quem se curva aos poderosos mostra a bunda aos oprimidos."

5 comentários:

  1. Cara, concordo com você em quase tudo deste texto. Concordo que a comédia brasileira tem melhorado, que o Rafinha é um dos caras e tal, mas não concordo com a falta de limite.

    Eu acho que ele esticou a baladeira nesta piada, mas acho que a infelicidade foi a forma como ele colocou a piada.

    Aposto que se ele tivesse dito, "Grávida ou não eu como ela!" a piada teria feito o mesmo efeito e seria menos agressiva...

    Já diz aquele velho deitado: Quem fala o que quer ouve o que não quer!

    Para finalizar, gostei do texto. Gosto sempre de ver seus comentários sobre as coisas.

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  2. Tambem acho que alguns comentarios dele sao desnecessarios. Nem digo esse mas, por exemplo, o que ele falou sobre estupro ser um favor a mulher feia. Foi ao mesmo tempo machista e repugnante.

    Enfim, acho mesmo que piada nao tem limite o que tem limite eh a graca que ela tem.

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  3. O conceito de politicamente correto é mal empregado no Brasil. Ao meu ver, acho até que você não empregou bem. A ideia de politicamente incorreto é um pretexto de crítica a padrões da sociedade, que estão postos e não podem ser questionados.
    A questão é que o Rafinha Bastos, na maior parte do tempo, não questiona padrões, apenas usa ofensa como forma de maquiar um "politicamente incorreto". Não há nada que questione padrões ao dizer que "comeria Wanessa e seu filho", apenas ofensa.
    Um comparativo ideal disso encontra-se nos stand-up's norte-americanos. A acidez na crítica é tamanha que é difícil encontrar um humorista republicano. Cito alguns politicamente incorretos: Louis C.K., George Carlin, Richard Pryor, Bill Hicks, Andy Kauffman, Lenny Bruce, Russell Peters, Eddie Murphy, Sarah Silverman, Steven Wright, Sam Kinison, Ricky Gervais, Chris Rock.
    É curioso como no Brasil o humor dessa geração stand up é conservadora: ao invés de questionar padrões, questiona quem questiona. Um exemplo: Danilo Gentili disse que não deveria votar na Dilma porque ela foi torturada, pois "não foi ele quem mandou ela ser torturada". A questão é gente como ela foi torturada para que piadas imbecis como essa pudessem ser contadas. Há uma mentira nesse "politicamente incorreto", dado que é um pretexto de um discurso retrógrado.
    Por fim, o humor do qual, creio, que não deva ter limites é esse norte-americano? Acho que têm coisas boas, mas não pode servir de padrão. Liberdade de expressão é uma visão máxima nos EUA, mas deve ser no Brasil? Na Alemanha, não é. E por não ser, faz desse país menos desenvolvido que os EUA? Creio que não.
    Acho, sim, que o humor tem limites. E, sim, merece reflexão a causa, já que os limites só serão descobertos caso a caso, até que se chegue perto de um consenso sobre padrões de limites.

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  4. E pra completar, um negocio massa que li: http://bulevoador.haaan.com/2011/10/28637/

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  5. Concordo muito com tudo que vc disse. Já fui a shows de stand up comedy e sei que ali eles zoam com todos e tudo é levado na brincadeira, porque é assim que deve ser. Adoro Saturday Night Live, South Park, Family Guy ...
    Não entendo de onde saiu esse moralismo todo e onde ele fica quando se trata de outras tematicas como abuso infantil, crianças viciadas, escravidão (sim, isso ainda existe aqui), dentre outros.
    Ainda bem que vc não está aqui para ver a polemica sobre a dupla: Zeze de Camargo e Luciano... As vezes eu mesmo não entendo esse país!!!

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