quinta-feira, 28 de março de 2013

O Último Romântico

Que tempos são esses que vivemos?

Tempos de velocidade, sempre conectados com as cabeças cada vez mais baixas digitando algo no celular.

Tudo em tempo real, num tempo irreal.

Onde foi parar o romantismo?

Não estou falando de trazer flores, abrir a porta do carro ou puxar a cadeira. Embora esse também esteja em extinção.

Onde foi parar o romantismo no mundo que nos cerca?

Cadê o romantismo na música? Onde foram parar os álbuns... Lembra quando você comprava um disco (ou CD) do seu artista favorito? Aí você ouvia aquele álbum acompanhando a letra no encarte! E as músicas faziam sentido! Imprimiam uma sensação de pertencer a uma tempo. A relação entre aquele conjunto de músicas e o que estava acontencendo na sua vida faziam sentido. Aquele conjunto de músicas datavam a sua vida e se tornavam parte viva na sua memória. Ficava fácil voltar no tempo. Você provava que era fã pelos lados B que conhecia. Hoje, falar em datado é palavrão. As músicas vem em mp3, disconectadas e disconexas, atemporais. Ouvidas por orelhas desinteressadas e pernas velozes que correm em busca de sei lá o que! Abaixo os "Greatest Hits"! Coletâneas que juntam tempos e sensações diferentes num mesmo barco furado e à deriva. Impossível perceber a evolução ou involução dos artistas, quais foram as suas influencias naquela época... Bandas que mudam de estilo como carros que mudam de faixa procurando a mais rápida.

Cadê o romantinsmo no cinema? Atores e atrizes que precisam ser bonitos antes de telentosos. Americanos refazendo filmes estrangeiros por preguiça de ler uma legenda. 3D... ahhhhhh o 3D.... O cinema sendo apreciado pela quantidade de efeitos especiais e não pelo sentimentos e sensações que que fazem aflorar. É o terror que assusta pelo súbito aumento de volume da música, vampiros apaixonados por falsas virgens do pau oco! 9 horas de filmes para mostrar seres inexistentes andando numa terra inexistente para destruir um anel. Filmes de super heróis que cumprem um duplo papel de produzir lixo cinematógrafico e acabar com o romantinsmo da criança de 6 anos tentando entender um soletrado diálogo em um gibi. Nem as comédias românticas são românticas. Ou comédias. Cadê a inovação e a supresa? Nem as histórias reais são reais. São baseadas em.

Cadê o romantimso no esporte? Onde foi parar o lateral grosso que marcou um gol impedido aos 45 minutos do segundo tempo? Não tem mais a gozação no bar da esquina ou no trabalho. A gente passou dessa fase. Resolvemos matar logo! Como se os gladiadores estivessem na arquibancada. Cadê o cara que jogou 20 anos no mesmo time? Os caras beijam um escudo diferente a cada 6 meses. Vivemos os tempos dos centroavantes recuados e dos falsos pontas. Tudo é falso. A emoção é falsa. Mas os sinalizadores assassinos são reais.

Cadê o romantismo da comédia? Cadê o cara que faz piadas pesadas? Agora só pode fazer piada de papagaio? Cuidado que a associação de defesa dos animais pode proibir essas também. É a proibição contra o politicamente incorreto. "Politicamente incorreto" é a maior grey area de todos os tempos. Muda de acordo com o interesse de quem julga. Palavrão não pode, a comédia não retrata ou sacaneia a vida real. Não podemos mais rir de nós mesmos! Ficamos mais sérios ou mais burros. Humorísticamente falando. Abaixo as Zorras Totais! As Praças nunca foram Nossas! Grupos gays que processam comediantes mas esquecem de protestar contra deputados/líderes religiosos que querem proibir seu direito de dar a própria bunda.

Cadê o romantismo no pornô? Cadê as cabelos arrepiados das atrizes? Na verdade cadê os cabelos das atrizes? Todo mundo penteado, maquiado e devidamente depilados. Tudo a um clique da sua mão, a que estiver desocupada, claro.

Mas o que levou a tudo isso? O dinheiro, a globalização, o aquecimento global? Ou seria a vontade de ser um vencendor?

Eu acho que o que mudou foi a necessidade de quantificar tudo? O que é ser te torna um vencedor? A quantidade de carros que você tem? Quantos milhões você juntou no banco? O número de troféus que você conquistou? O número de fiéis que você tem na sua igreja? A quantidade de mulheres que você comeu? Quantos filhos você teve? O número de quilos que você perdeu?

"Mega, Ultra, Híper, micro, baixas calorias, Kilowatts, Gigabytes... e eu o que faço com esses números? "

O conceito mudou.... O bom filme foi o que ganhou mais Oscars, a melhor música foi a que vendeu mais. O melhor jogador foi o que fez mais gols. O melhor restaurante é o que tem o chef na TV.

Então o cara faz o filme sem conteúdo e paga um monte de gente para promover e fazer propaganda. O músico que compõe por ecomenda para atingir um nicho de mercado à pedido de uma gravadora. O jogador que muda de time para conquistar um título que não tem.

Não estou dizendo que todo mundo tem que ser franciscano e morrer desconhecido e pobre... Que filme bom não pode ganhar Oscar ou que música boa não pode vender. Claro que pode! Mas, esses não podem ser os objetivos finais.

O espaço para quem pensa rápido e ama lento está cada vez menor. O público virou alvo e os coracões viraram cardiologistas.

Mas, nem tudo está perdido! Existem algumas resistências aqui e ali. Ainda existem uns caras por aí que teimam em andar na contramão. Existem alguns que conseguem viver conforme as suas convicções. Não apenas viver, mas fazer a diferença. Ainda existem coisas capazes de emocionar. Ainda existem os caras que fazem suas músicas sem se preocupar o que gravadora vai achar ou quantas pessoas vão comprar. Ainda existem os caras que trazem para o cinema uma história inovadora, técnicas inovadoras, mesmo que o Spider Man do cinema ao lado tenha mais gente.

Ainda existem os caras que mesmo seguindo a sua própria lógica e seu coração, conseguem sobreviver ao sistema e colocar a cabeça pra fora dessa merda toda.

Mas corram! Procurem aprender com eles rapidamente, porque a pressão é grande e mais cedo ou mais tarde eles vão se corromper. Ou morrer. De verdade ou na sua essência.

Ainda não tenho certeza se minha teoria está correta ou se eu estou só ficando velho mesmo. Saudosista! Talvez eu esteja prestes a me corromper: casinha no subúrbio, the voice nas noites de segunda e terça.... Afinal o inimigo mora no quarto ao lado: o filho que quer ver o Superman no cinema, a galinha pintadinha no som da filha, o axé music tocando no churrasco da casa dos amigos.

Estou ficando é mais chato

Post dedicado para: Humberto Gessinger, Kevin Smith, George Carlin (RIP) and Ryan Giggs. Que 500 days of Summer se espalhem Across the Universe para que nós, a minoria, não nos transformemos em personagens de uma Pulp Fiction qualquer.

e boa sorte para Jarome Iginla....